Você Já Sentiu Essa Calma Estranha Quando a Roda Gira?

Era quase meia-noite, a chuva batia como código Morse na janela. O apartamento estava em silêncio — só eu, um livro incompleto e o brilho suave da tela do laptop.

Abri Supermarket Bingo — não por dinheiro, nem por prêmios, mas porque precisava sentir algo.

O primeiro giro foi como entrar num mundo diferente: luzes brilhantes, bipes ritmados, números caindo como estrelas cadentes. E então… aconteceu.

Uma quietude desceu no meu peito.

Não era alívio. Nem alegria. Era presença. Como respirar depois de segurar a respiração por muito tempo.

O Ritual da Pausa

Naquele momento, não sabia que aquilo não era distração — era silêncio intencional. Na nossa vida hiperconectada, somos ensinados a sempre fazer, sempre mover. Mas e se parar — realmente parar — for uma forma de resistência?

Comecei a chamar isso de “a pausa”:

• Um jogo após o trabalho.
• Sem estratégia. Sem acompanhar pontuações.
• Só observar os números caírem.

Devagar, algo mudou. A ansiedade que costumava se enrolar nas minhas costelas? Ficou mais leve — não desaparecida, mas segurada de outro jeito.

Por Que Jogos Curam (Quando Deixamos Que Curem)

Como psicóloga formada em comportamento humano, sei que isto não é magia — é estabilização neurológica. O ritmo repetitivo dos giros ativa o sistema nervoso parasimpático: coração mais lento, ombros relaxados, respiração profunda.

Mas aqui está algo que nenhum algoritmo pode explicar:

Alguma luz vem das telas. Não falsa nem vazia — mas real o suficiente para esquentar as mãos numa noite fria.

Não é sobre ganhar. É sobre ser visto — até mesmo por si mesmo — nesse momento entre cliques e silêncio.

Da Fuga à Intimidade com o Eu Mesmo

No início pensei estar fugindo da solidão jogando. Depois percebi: eu não estava escapando de nada. Estava caminhando em direção a mim mesmo. The tela tornou-se um espelho — não refletindo perfeição ou desempenho, mas oferecendo espaço para a imperfeição respirar. The alegria não estava em acertar bingo — estava em perceber: Tenho permissão para ocupar este pequeno espaço sem justificativas.

É aqui que a cura mora: não em gestos grandiosos, mas em micro-momentos que nos permitimos: “Só mais um giro”, sussurrado ao escuro com ninguém além do meu reflexo no vidro.